
Para Ariano Suassuna, Aires foi o maior filósofo brasileiro do século XVIII, e fazia parte da nossa indigência anti nacionalista, o fato de ser desprezado pela Universidade. Pode ser. Para mim é muito europeu e europeu de seu tempo e da sua classe social (a aristocracia endinheirada da época). Como quase tudo naquele tempo, era um escritor profundamente influenciado pelo pensamento francês (La Bruyére, La Rochefoucauld): cartesianismo de fundo e moralismo misantrópico como enchimento. Há a chave do pessimismo que já está dada pela fonte principal de todas estas reflexões, o Eclesiastes. É a constante percepção da futilidade das ações humanas, já que somos sempre limitados pela decrepitude e pela morte, pelo esquecimento e pela desaparição. Mas em Aires há um fundo jansenista, os dos vazios pascalinos da eternidade apavorante pairando como uma nuvem de melancolia sobre o texto, o pavonear do caniço pensante e sua puerilidade evidente. É tudo muito acertado, mas este desencanto com os Homens (este plural metafísico voraz e que abarca tudo) sempre me parece um pouco postiço e, na sua generalidade, impreciso. Deixa toda a vida humana, que é vária e sentida e vivida de maneiras diferentes, muito igual e melancólica e aborrecida, como se, afinal, fosse uma experiência que, examinada em profundidade, significasse muito pouco. Este deve ser, eu acho, o problema com os Moralismos, estas escolas de máximas morais através das quais um sujeito depressivo, em geral misantropo e mau amado, discorre sobre toda a vida humana, os homens e mulheres de todos os tempos e idades e aldeias e cidades e nações e, a partir daí, delimita que “tudo é”. Será? Bom, é de qualquer forma uma leitura agradável e, se não fala tudo a respeito da humanidade inteira, diz o suficiente do tipo de homem que escreveu: sua classe e sua época, seus preconceitos e seus horizonte espirituais. E o que mais poderíamos pedir?